Vou passar de um dia pra outro de minha vida pensando nas 1500 maneiras de como percorrer teu corpo.

Começar por cada dedo de teu pé sabendo que cada um compreende um vale dos passos que destes em direção aos minutos dos dias. Tuas pernas, fortificadas pela experiência do caminhar, serão o repouso de beijos e mordidas quando minha boca passar em busca do aroma que mora escondido onde a vida nasce.

Agora estamos em teu ventre e minha língua se demora em teu umbigo pois sem nenhuma pressa quero sentir o gosto de rosa pele em minha saliva.

Tudo o que foi construído nos minutos,horas,dias,meses,anos antes de chegarmos aqui será experimentado antes do novo começar.

Porque eu levantei cedo e não sabia que dia era. Há muito não tinha a luxuosa sensação de estar à deriva no tempo. A constatação desenterrou lembranças de infância e de uma vida sem números.
Poderíamos pensar que não temos compensações em nosso ano contábil, nossa semana inglesa e em nosso (mirrado) contracheque. Isso é mentira. Temos um amplo Shopping Center de consumismo para completar as estantes vazias da nossa falta de personalidade (estavam cheias, mas nossas utopias e desejos infantis tomam muito espaço e não são o que o Mercado de Trabalho necessita atualmente).

Vou comprar um Home Theater para esquecer que um dia quis ser astronauta.

Eu deveria saber que a vida seria madastra no momento em que a Velha disse com palavras ternas de Chico Buarque: "Vai trabalhar, vagabundo!" e meu Velho meteu a tatuagem 42 no meu rabo preguiçoso.